sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Resenha: Noites Brancas - F. Dostoiévski




"Numa iluminada noite de primavera, à beira do rio Fontanka, um jovem sonhador se depara com uma linda mulher, que chora. São Petersburgo está mergulhada em mais uma de suas noites brancas, fenômeno que as faz parecerem tão claras quanto os dias e que confere à cidade a atmosfera onírica ideal para o encontro entre essas duas almas perdidas. Em apenas quatro noites, o tímido rapaz e a misteriosa Nástienhka passam a se conhecer como velhos amigos, mas algo vem atrapalhar o desenrolar romântico deste fugaz encontro. "

Noites Brancas talvez seja uma dos melhores romances para introduzir o leitor ao estilo das obras de Dostoiévski. Logo no início do livro somos apresentados as características marcantes do autor; o idealismo, a representação de uma Rússia fria e distante dentro do então contexto social e o mais importante: o existencialismo, presente em todas as obras do autor.

O nosso protagonista nome não tem, refere-se a si mesmo como "um sonhador" e de fato, age como tal. Seu contato com a realidade é muito pouco, sendo resumido a passeios onde observa a vida das pessoas de São Petersburgo e com a Matriona, de quem é inquilino.

Sua personalidade idealista e melancólica nos acompanha durante todo o livro, até mesmo em descrições detalhadas dos prédios e casas por onde passa, pois de tanto sentir-se sozinho, desenvolveu certo afeto com todo o ambiente.

“As casas são minhas conhecidas”; “Agora você entende leitor, de que modo travei relações com toda Petersburgo”
A solidão e o vazio levam o nosso sonhador a refugiar-se em livros e na própria imaginação até o dia em que conhece a jovem Nástienhka, que encontrava-se abatida e igualmente perdida. Em poucos minutos de conversa entre os dois, o jovem sonhador arrisca-se a sair do refúgio de seu mundo imaginário, pensamento reforçado pelo afeto desenvolvido à jovem. Tornam-se amigos e o foco de seus pensamentos românticos passa a ser Nástienhka.
Tendo experimento a maior parte de sua vida como uma noite infinita, Nástienkha surge como uma luz, sugestivamente numa Noite Branca. Acontece, talvez, uma necessidade de complemento pelas duas partes vazias, uma forma de preencher o vazio de ambos. A jovem, com seu coração partido e o sonhador, de quem ela era toda a realidade.

A história segue seu curso natural até que surge o fator destino. O progresso que o nosso sonhador pensava ter feito com suas intenções românticas para com Nástienkha é interrompido pelo passado da jovem, passado esse que quebrou-lhe o coração mas que continuou presente nesse meio tempo. As expectativas de Nástienkha se confirmam com a volta do rapaz que prometeu-lhe casamento e então parte para a vida que tanto sonhou.
O jovem sonhador volta a viver em seu refúgio, mas desta vez menos romântico e mais melancólico. O passado volta a assombrar-lhe com o convite de casamento enviado por Nástienkha, juntamente com uma carta da jovem. Nesse momento ele reavalia sua própria vida, numa perspectiva de futuro que ele mesmo desaprova.

"(...) talvez estivesse a passar pela minha imaginação, tão desagradável e tristemente, toda a perspectiva do meu futuro, e eu me estivesse a ver agora como serei daqui a quinze anos, avelhentado, no mesmo quarto, com a mesma Matriona, a quem os anos não tornaram mais esperta."
É difícil chegar ao fim da história e não se afeiçoar ao personagem. Nosso sonhador arriscou a sair de sua "confortável" imaginação, seu refúgio pessoal para encontrar-se em outro, mas mesmo assim Nástienkha pareceu a seus olhos uma história que foi concluída relutantemente. Da qual leu, envolveu-se mas não foi a ele permitido participar, não existiu retorno. Se antes, sem contato com a realidade, sentia-se apenas um observador, o contato propriamente dito não se mostrou diferente nem acolhedor. Mas experiência não teria sido nem um pouco gratificante? Não, muito pelo contrário... É o que leitor percebe ao final da história, dito nas palavras do nosso próprio sonhador
"Meu Deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher uma vida?"

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